
Em tempo de guerra, década de 40 do século XX, não somos fustigados com descrições entediantes da invasão japonesa sobre a China. Pelo contrário, somos reportados para um micro-universo feminino em constante mutação. Confrontamo-nos com uma jovem reservada, enamorada por Kuang. Assume um papel revolucionário como actriz e, a partir daí, envolve-se num plano de espionagem encarnando uma personagem, Mrs Mak, que nos leva a questionar sobre quem é realmente aquela figura feminina que se move elegantemente perante o nosso olhar. A sua personalidade é bem vincada, a sua identidade flutuante. Seduz Mr Yee, conquista a sua confiança numa tentativa de o atrair para a sua própria morte. É na joalharia que se consciencializa dos sentimentos daquele homem de temperamento aparentemente frio. Ela dedica-lhe uma música que o emociona, ele surpreende-a com um diamante único. Mas não é na materialidade dos gestos que nos prendemos. É na emoção que nos arrancam, na vontade de nos sentirmos constantemente apaixonados, no desejo de nos entregarmos CEGAMENTE a uma pessoa. Sufocada por um arrependimento despertado pela constatação da autenticidade de Mr Yee e engrandecido pela sua dissimulação? Apaixonada? Descubra-se o móbil da sua escolha: salvação de Mr Yee em troca da sua condenação e de todos aqueles que, desde o início, planeavam a conspiração.
Não consigo afastar da minha mente alguns dos planos seleccionados pelo realizador: o perfil de Wong ao fazer o telefonema para Kuang, os corpos desnudados de Wong e Mr Yee em completa harmonia durante as cenas sexuais, a intensidade transmitida pelos olhares de ambas as personagens captada por planos mais pausados. DELICIOSOS PORMENORES.
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