sábado, 9 de fevereiro de 2008

Na sombra da Noite

Inconscientemente deliciados em frente ao televisor, desconhecemos os milhões de passos que se dão para chegar ao resultado final. Um assistente de produção ou qualquer outra designação que o valha que, de cartucho de papel na mão, leva as suas cordas vocais ao limite apelando ao divertimento. Em correria constante, reage continuamente à pressão de uns auriculares que o comandam. Gesticula movimentos que nos coordenam: agora batam palmas, agora batam palmas e gritem. E agora (como se não bastasse tudo o resto), batam palmas gritem e ponham-se de pé! (risos) E que tal propor uma actuação a cada um... Deveria chamar-lhes espectadores, o público que assiste. No entanto, senti-me uma marioneta que forçosamente participa. Eu apenas queria saber como funciona todo o espectáculo por detrás do próprio espectáculo: cameramen que oprimem os seus ajudantes (aqueles que os impedem de se enrolarem nos seus próprios cabos e de se estatelarem no chão) outros mais assertivos; os tais ajudantes que se tentam adaptar chegando quase ao estatuto de sombra; e um momento que me fascinou por ter trazido a este caos coreografado a anarquia completa. Eis que, no final do "seu tempo", o Maestro António Victorino d' Almeida pede permissão para voltar ao piano e para ele se dirige em passo acelerado e de bengala em riste, não o conseguindo acompanhar o próprio José Carlos Malato nem qualquer dos elementos da equipa por detrás das câmaras. Uma sinfonia desarmoniosa para o olhar.
Sem dúvida, o resultado foi um conjunto de hilariantes momentos que ficarão reservados na memória, para quem isento de responsabilidade assiste tranquilo ao desenrolar de todos os passos já delineados em "ecran ponto" e numa listagem que todos carregam como se se tratasse de um manual de sobrevivência (para o mundo televisivo de sexta à noite; temerosa noite de lua cheia! Ihihih).
Não fossem as fanáticas moçoilas vindas dos sete cantos de Portugal para se deliciarem com a actuação de Michael Carreira ou simplesmente com a sua aparição, a figura bonacheirona e sempre simpática do Malato (permitam-me a proximidade), o humor trazido por Nuno Markl e a escolha de alguns dos convidados conferiam a esta experiência um saldo positivo que, mesmo sendo como foi, não o deixou de ser. Porque afinal deliciei-me com a postura do apresentador, com a simplicidade do humorista, com o carisma do Maestro, com as palavras de Pedro Abrunhosa (para meu próprio espanto; embora não me agrade enquanto cantor!) que apelaram à revitalização da cultura em Portugal, à salvaguarda do património nacional. APLAUSOS

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