Inconscientemente deliciados em frente ao televisor, desconhecemos os milhões de passos que se dão para chegar ao resultado final. Um assistente de produção ou qualquer outra designação que o valha que, de cartucho de papel na mão, leva as suas cordas vocais ao limite apelando ao divertimento. Em correria constante, reage continuamente à pressão de uns auriculares que o comandam. Gesticula movimentos que nos coordenam: agora batam palmas, agora batam palmas e gritem. E agora (como se não bastasse tudo o resto), batam palmas gritem e ponham-se de pé! (risos) E que tal propor uma actuação a cada um... Deveria chamar-lhes espectadores, o público que assiste. No entanto, senti-me uma marioneta que forçosamente participa. Eu apenas queria saber como funciona todo o espectáculo por detrás do próprio espectáculo: cameramen que oprimem os seus ajudantes (aqueles que os impedem de se enrolarem nos seus próprios cabos e de se estatelarem no chão) outros mais assertivos; os tais ajudantes que se tentam adaptar chegando quase ao estatuto de sombra; e um momento que me fascinou por ter trazido a este caos coreografado a anarquia completa. Eis que, no final do "seu tempo", o Maestro António Victorino d' Almeida pede permissão para voltar ao piano e para ele se dirige em passo acelerado e de bengala em riste, não o conseguindo acompanhar o próprio José Carlos Malato nem qualquer dos elementos da equipa por detrás das câmaras. Uma sinfonia desarmoniosa para o olhar.
Sem dúvida, o resultado foi um conjunto de hilariantes momentos que ficarão reservados na memória, para quem isento de responsabilidade assiste tranquilo ao desenrolar de todos os passos já delineados em "ecran ponto" e numa listagem que todos carregam como se se tratasse de um manual de sobrevivência (para o mundo televisivo de sexta à noite; temerosa noite de lua cheia! Ihihih).
Não fossem as fanáticas moçoilas vindas dos sete cantos de Portugal para se deliciarem com a actuação de Michael Carreira ou simplesmente com a sua aparição, a figura bonacheirona e sempre simpática do Malato (permitam-me a proximidade), o humor trazido por Nuno Markl e a escolha de alguns dos convidados conferiam a esta experiência um saldo positivo que, mesmo sendo como foi, não o deixou de ser. Porque afinal deliciei-me com a postura do apresentador, com a simplicidade do humorista, com o carisma do Maestro, com as palavras de Pedro Abrunhosa (para meu próprio espanto; embora não me agrade enquanto cantor!) que apelaram à revitalização da cultura em Portugal, à salvaguarda do património nacional. APLAUSOS