terça-feira, 6 de maio de 2008

OH LET ME WEEP.

Para sempre.

http://www.youtube.com/watch?v=B5xsuMb-PzQ
Já assim soava nos primeiros minutos de Hable con Ella de Pedro Almodovar. Desde aí a minha paixão por Pina Bausch. Um encanto supérfluo que sempre guardei. Reificou-se num bilhete que me dava acesso a um lugar de visibilidade reduzida. Ainda hesitei. Se não fosse naquele dia, não seria nunca, pensei. Ontem. Corri para ocupar o meu lugar. Uma pequena cadeira elevada num camarote no Teatro Municipal S. Luiz. Entre os fragmentos que perdi, o que observei foi o suficiente para incorporar as palavras orquestradas por Henry Purcell e encarnar os amantes coreografados por Pina Bausch.
Tamanha tristeza em tão escassos minutos. A intensidade dos movimentos, a força das emoções que desfilaram naquele palco dissolveram o tempo. Não permitas que a força dos teus braços me abandone num chão frio, gritavam. Aqueles corpos imploravam carinho, compaixão. Amor. Revelavam, em movimentos repetidos e compasso acelerado, espasmos de dor e convulsões de desespero. Angústia.
Calcei os sapatos rosa que tiqtaqueavam o palco e cambaleei. Por entre mesas e cadeiras dispersas vagueei em agonia, cega embati contra o vidro e a parede, vezes sem conta. Não me largues dos teus braços. Apela à tua força. Não me soltes. Se eu soubesse amar-te com a delicadeza daquela folha de papel que deslizou até à calçada. Se eu soubesse abraçar-te. Que os meus braços se ancorassem ao teu corpo. Não demorou. Assim como não tardariam os passos com que te ofertaria os meus sentimentos. Em silêncio.

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